08 fevereiro, 2008

Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que adorava ensinar a sua filosofia aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda que ele ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro conhecido pela sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que o seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. E, conhecendo a reputação do velho samurai, estava ali para derrotá-lo, aumentando a sua fama de vencedor.

Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Atirou algumas pedras na sua direção, cuspiu no seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos - ofendeu inclusivamente os seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho mestre permaneceu impassível.

No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se. Desapontados pelo facto do mestre ter aceito tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram: Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou a sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se cobarde diante de todos nós? -

Se alguém chega até vocês com um presente, e vocês não o aceitam, a quem pertence o presente? - perguntou o velho samurai.
- A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.

- O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos - disse o mestre. Quando não são aceites, continuam pertencendo a quem os carrega consigo.